Por Celso Athayde | Eu e Ela – seg, 7 de nov de 2011
Foi com muita
alegria que nesse fim de semana, mais precisamente na sexta e sábado
passados, que vi o #diaDAfavela no Trending Topic Brasil, e isso nada
tem a ver com o fato de a CUFA ter proposto no Rio a lei que
transforma formalmente o dia 04 de novembro no dia da Favela. Lei que
vem se desdobrando em municípios como Salvador, Porto Alegre e
Fortaleza (só para citar alguns). Mas, para mim, o importante é que o
TTBrasil traz a favela para o centro de uma discussão maior, diferente
da simplista, como o jargão de que 99% dos favelados são do bem ou
que na favela a maioria é trabalhadora. A meu ver a discussão passa
longe disso.
Hoje se discute no mundo inteiro, e claro no Brasil também, o tema “DESENVOLVIMENTO”. E a favela, onde fica nisso? Este é o ponto central. Não podemos discutir desenvolvimento no país se as favelas e seus habitantes não se desenvolverem também, e sabemos que isso não é automático, os números comprovam. Existe o risco obvio de o país se desenvolver e a distancia social e o abismo aumentarem ainda mais. Por isso, fiquei feliz ao ver milhões de pessoas tuitando, alguns até xingando as favelas e os favelados, como possivelmente vai acontecer aqui, não importa. O importante é ela estar na pauta nacional a partir de uma nova lógica, sua festa e a existência de seus moradores.
O melhor dos mundos é o que não existe favelas. Sim, mas elas existem, estão entre nós, ilhando-nos muitas vezes. Logo, a melhor maneira de enfrentar esse problema, que pode ser considerado o mais grave de todos por conta das suas consequências, é encará-lo de frente.
Precisamos de uma política de habitação, de transporte séria, capaz de resolver essas questões, seja nas metrópoles, no campo, seja nas comunidades ribeirinhas ou quilombolas. Não importa a nomenclatura, falo das pessoas que vivem em espaços físicos em grande desvantagem social. Precisamos trabalhar na perspectiva do acesso, escola, posto de saúde, comércio, enfim, a mais variada gama de serviços que se tem que ter, do contrário iremos eternamente conviver com projetos sociais nas favelas como paliativo, e com ódios proferidos contra a favela e os favelados, como se eles estivessem lá por opção e não pela falta dela.
Criar o dia da favela não é uma forma de festejar uma anomalia social. É reconhecer as culturas desses locais e instigar uma reflexão para uma mudança necessária para todos. Conviver com as favelas não é uma opção individual de cada um de nós, é assumir uma realidade que precisa ser mudada por todos, sobretudo por políticas publicas que não deveriam melhorar as favelas, mas efetivamente fazer com que elas virem lendas distantes. Claro que o estresse e o preconceito gerados pelos vários lados são históricos e precisamos reconhecer a legitimidade de todos esses sentimentos. Sabemos que devemos nos despir dos preconceitos para avançar e criar essa via de mão dupla para construir novas possibilidades. É cultural e lento esse processo, mas é preciso lembrar que a favela não é a única a produzir violência. Ela é o efeito colateral da violência social e moral que milhões de pessoas foram e são submetidas.
Quanto ao #diaDAfavela comemorado no Twitter nos dias 04 e 05 de novembro, muitos responderam a essa invasão da favela no TTBrasil com ofensas, ingenuamente legítimas. Mas não podemos nos esquecer que se existe o dia do jornalista, do médico, da mulher, das crianças, do dentista... e soldado, floresta, natal, árvore, construção civil, vendedor, aves, abelha, lobinho, sogra e tantas outras formas de prestar homenagens a quem quer que seja, penso que a favela pode se auto homenagear sim, sem precisar inclusive que o Estado legitime sua decisão. Ela deve decidir como deseja e se tem motivos para comemorar, assim como decidir se é uma data simbólica para fazer suas reflexões para suas sonhadas mudanças. Considerando, principalmente, que as desigualdades são vistas como coisas absolutamente normais, como algo sem relação com produção no convívio na sociedade, não é. Não sou inocente de achar que viver num país justo é transformar todos os cidadãos em Silvio Santos, que enriquece depois de uma passagem como camelô. Equilíbrio é ser o motorista do Silvio sem ser necessariamente infeliz por conta disso.
Para os que acreditam em Jesus, vale lembrar que ele nasceu em Belém (ao menos segundo os Evangelhos de Mateus e de Lucas) entre fezes , miséria e ratos. Logo, podemos supor que #jesusnasceuNAfavela, não?
Então fica combinado que, seja você morador ou ofensor de periferias, quebras, comunidade carente, comunidade popular, morros etc... no dia 04 de novembro pode se manifestar contra ou a favor, por que agora é “oficial” no Brasil. Dia 04 é dia da favela, e quem achar ruim eu faço coro, mas vamos encontrar uma alternativa para ela.
Hoje se discute no mundo inteiro, e claro no Brasil também, o tema “DESENVOLVIMENTO”. E a favela, onde fica nisso? Este é o ponto central. Não podemos discutir desenvolvimento no país se as favelas e seus habitantes não se desenvolverem também, e sabemos que isso não é automático, os números comprovam. Existe o risco obvio de o país se desenvolver e a distancia social e o abismo aumentarem ainda mais. Por isso, fiquei feliz ao ver milhões de pessoas tuitando, alguns até xingando as favelas e os favelados, como possivelmente vai acontecer aqui, não importa. O importante é ela estar na pauta nacional a partir de uma nova lógica, sua festa e a existência de seus moradores.
O melhor dos mundos é o que não existe favelas. Sim, mas elas existem, estão entre nós, ilhando-nos muitas vezes. Logo, a melhor maneira de enfrentar esse problema, que pode ser considerado o mais grave de todos por conta das suas consequências, é encará-lo de frente.
Precisamos de uma política de habitação, de transporte séria, capaz de resolver essas questões, seja nas metrópoles, no campo, seja nas comunidades ribeirinhas ou quilombolas. Não importa a nomenclatura, falo das pessoas que vivem em espaços físicos em grande desvantagem social. Precisamos trabalhar na perspectiva do acesso, escola, posto de saúde, comércio, enfim, a mais variada gama de serviços que se tem que ter, do contrário iremos eternamente conviver com projetos sociais nas favelas como paliativo, e com ódios proferidos contra a favela e os favelados, como se eles estivessem lá por opção e não pela falta dela.
Criar o dia da favela não é uma forma de festejar uma anomalia social. É reconhecer as culturas desses locais e instigar uma reflexão para uma mudança necessária para todos. Conviver com as favelas não é uma opção individual de cada um de nós, é assumir uma realidade que precisa ser mudada por todos, sobretudo por políticas publicas que não deveriam melhorar as favelas, mas efetivamente fazer com que elas virem lendas distantes. Claro que o estresse e o preconceito gerados pelos vários lados são históricos e precisamos reconhecer a legitimidade de todos esses sentimentos. Sabemos que devemos nos despir dos preconceitos para avançar e criar essa via de mão dupla para construir novas possibilidades. É cultural e lento esse processo, mas é preciso lembrar que a favela não é a única a produzir violência. Ela é o efeito colateral da violência social e moral que milhões de pessoas foram e são submetidas.
Quanto ao #diaDAfavela comemorado no Twitter nos dias 04 e 05 de novembro, muitos responderam a essa invasão da favela no TTBrasil com ofensas, ingenuamente legítimas. Mas não podemos nos esquecer que se existe o dia do jornalista, do médico, da mulher, das crianças, do dentista... e soldado, floresta, natal, árvore, construção civil, vendedor, aves, abelha, lobinho, sogra e tantas outras formas de prestar homenagens a quem quer que seja, penso que a favela pode se auto homenagear sim, sem precisar inclusive que o Estado legitime sua decisão. Ela deve decidir como deseja e se tem motivos para comemorar, assim como decidir se é uma data simbólica para fazer suas reflexões para suas sonhadas mudanças. Considerando, principalmente, que as desigualdades são vistas como coisas absolutamente normais, como algo sem relação com produção no convívio na sociedade, não é. Não sou inocente de achar que viver num país justo é transformar todos os cidadãos em Silvio Santos, que enriquece depois de uma passagem como camelô. Equilíbrio é ser o motorista do Silvio sem ser necessariamente infeliz por conta disso.
Para os que acreditam em Jesus, vale lembrar que ele nasceu em Belém (ao menos segundo os Evangelhos de Mateus e de Lucas) entre fezes , miséria e ratos. Logo, podemos supor que #jesusnasceuNAfavela, não?
Então fica combinado que, seja você morador ou ofensor de periferias, quebras, comunidade carente, comunidade popular, morros etc... no dia 04 de novembro pode se manifestar contra ou a favor, por que agora é “oficial” no Brasil. Dia 04 é dia da favela, e quem achar ruim eu faço coro, mas vamos encontrar uma alternativa para ela.
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